09 dezembro 2014

Presença

O que está dentro é o que está fora.
O que está fora é o que está dentro.
E entre o que está dentro e o que está fora estou eu.
E entre o que está fora e o que está dentro estou eu.
Porque eu não estou fora nem dentro, nem dentro nem fora, mas sem mim nada estaria dentro, e sem mim nada estaria fora.

Eu sou a fronteira.

Eu sou a superfície.
Eu sou a barreira.
Sou o artífice.
Sou fronteira sem guarda.
Sou superfície rugosa e permeável.
Sou barreira dos sentidos que em mim esbarram para entender, com artifícios que só permitem ouvir, tocar, cheirar e ver.


Sei o que está fora e não conheço o que está dentro.
Sem mim sou dentro e fora.

Num lugar sem espaço, num instante sem tempo.

Jardim de pó

Trago no peito um temor que corrói a terra inteira.
Trago a terra inteira no peito, por não saber plantar sementes nem regar plantas.

Do pó me fiz, em pó me farei.
E entre o pó que me fez e o pó que eu faço, fica um castelo que não é de pó;
que é de pedra como as coisas que ficam.

Comi frutos que não plantei e guardei-lhes as sementes para um dia as plantar. Um dia, quando me pegarem pela mão e me ararem a terra inteira.
Então abrirei o peito e mostrarei ao Mundo que cá dentro levo um jardim.

E que no jardim do meu peito plantei um castelo que por fora é feito de pedra, mas por dentro é feito de ar.

Como as coisas que vão.

28 março 2014

Ilusão

A vida não é vida se não deixar de o ser.
A morte só existe naquilo que se transforma.
Para a morte dar vida não é necessária norma,
apenas a fortuna de na morte a vida ver.