29 novembro 2006

Troca

A pedra basilar de um muro.
A fronteira de um território por explorar.

Um convite.
Um passo.

A muralha erigida desmembra-se com um sopro.

28 novembro 2006

24 novembro 2006

Corolário

Ao entrar pela porta que se lhe aparentava fechada resumiu a sua vida em quatro passos.

Afecto.
Maresia.
Oferta.
Ruído.

23 novembro 2006

Aparências

De ouro se veste o frio.
De frio se enche a luz.
De luz se forra a mágoa.
De mágoa se molha o encanto.

Receber sem ofertar.
Tocar sem acariciar.

22 novembro 2006

Imaginário

Um pote de moedas de ouro.
Sete cores riscam a cinza.

Duplicam-se vontades.
Dobram-se virtudes.

Salta-se um degrau para subir a escada toda.

Imprevisibilidades

Nunca uma opção se perfilou como a certa.
Nunca um tiro foi disparado com direcção.

Cambiantes num percurso.

Ponteiros de um relógio que se encontram a meio da jornada.

Caminho

Abriu.
Subiu.

Inventou o seu verbo na ponta de uma seta.

As escolhas que tomou facultaram-lhe o ser.

20 novembro 2006

Reconstruir

O ocaso traz no bolso o estilhaçar de fragmentos que outrora foram a unidade.

O ligante demora a encontrar.

A unidade atingir-se-á.

14 novembro 2006

Posse

Eu vi.

Ninguém me disse.
Ninguém mais viu.
Ninguém quis.

Ninguém me quis.

Eu jurei que jamais a soltaria.

Porque um homem também jura.

13 novembro 2006

Gostar

Segurar um ramo de espinhos envergando uma coroa de pétalas.
Brincar com a água bebendo o fogo.

Entender o imperceptível no desfiar de um novelo de ternura.

09 novembro 2006

Afecto

Estirpes retrógradas evolvem dependentes de comoções corpóreas.

Porque o prazer se ajoelha perante magnânimos enleios.

07 novembro 2006

Delicadeza

A esquiva de um golpe certeiro.
A silhueta de uma carícia.
O poder da viração.


A sombra de um gesto.

À sombra de um gesto.

Reflexo

Em aventuras por terras de nenhures cedo se encontra quem menos se espera.

Uma Feira Popular.
Um lago.

A mácula de não voltar para trás.

02 novembro 2006

Brilho

Áureas molduras resplandecem em batidas confinadas.

Discurso directo

Aprecio o belo. A estética diz-me muito, porém não me considero fútil.
De todo.

Sinto-me capaz de apreciar o feio. Aprecio o belo no belo. Aprecio o belo no feio. Não o feio que depende dos gostos, das sensibilidades, de modas ou humores, mas o genuinamente feio. Aquele feio que o é na sua génese e que o será na sua eternidade. O feio consciente.

Mas não fui dotado de mecanismos que me permitam transpor os sentimentos que me assolam para palavras. Lamento. Apenas escrevo o que sinto. E apenas o consigo escrever de uma forma pouco inteligível. Até mesmo para mim.

Sou frequentemente assoberbado por enxurradas de emoção que provocam em mim a necessidade de partilha. E faço-o. Sem pudor, sem medo nem vergonha. Sou um mero veículo de emoções que fluem por entre os meus dedos, muitas vezes sem que eu sequer dê por elas.

Serei um esteta? Talvez.

Acima de tudo sou punk.

Sem crista nem blusão de cabedal.
Sem picos nem a cheirar mal.

Porque ninguém sentiu nunca mais do que os punks.
E eu sinto.
Para viver.