29 dezembro 2006

Transição

Um diamante vibra na montra de um armazém de imagens.

Pérolas que se fazem porcas.
Porcas que se fazem parafusos.
Parafusos que se fazem pregos.
Pregos que se fazem ataúdes.

Fechar uma janela para abrir um portão.

28 dezembro 2006

Pai

Porque aquele abraço ficou esquecido.
Porque aquela palavra não saiu.
Porque aquele olhar atravessou.
Porque aquele gesto se perdeu.

Porque deixaste um vazio.

E dói não poder partilhar contigo os passos que dou.

27 dezembro 2006

21 dezembro 2006

O Vampiro

Houve dias em que chegou a entendimentos, mas nunca deixaram de ser os seus. Tudo o resto lhe parecia ingnóbil. Toda a gente, tudo o que faziam, tudo o que diziam.

Houve dias em que não conseguiu entender a mais básica das equações, mas nunca deixou de ser a sua equação. Ninguém, nenhuma das pessoas que o rodeavam foi capaz de lhe abrir os olhos para o que se esplanava à sua frente.

Andou. Correu. Parou. Passeou, muito!

Sempre precisou de pessoas. Sempre se alimentou delas. Sempre lhes sugou a essência, o âmago. Ninguém lhe percebeu essa característica. Toda a gente se sentia bem na sua companhia.

Injusto é adjectivo que nunca puderam associar à sua pessoa.

Mas sempre foi quem queriam que fosse.

Opções

A dor não é mais que um estado de prazer dissimulado.

19 dezembro 2006

Decadência

Rolando um limão numa fraga de espelhos como barril que se despenha no Iguaçú.

Interdito à mente.
Disponível ao corpo.

15 dezembro 2006

Soluço

Quantas vezes.
Tanta gente.

Talvez um parque.
Talvez uma diversão.

Porque a sério só se morre.

14 dezembro 2006

Câmbio

Na memória carrega o peso de uma balança que não comprou.

Vendeu a camisola com que matava a fria noite.

Comprou a felicidade alheia.

11 dezembro 2006

Protecção

Tenta passar por entre um sobretudo e um guarda chuva.
Tenta cantar num karaoke sem ecrã.

Agarra quem a si se agarra.

Cerca uma caixa com dois passos e um beijo.

07 dezembro 2006

Presença

A mão pesada do consolo afaga o mais incauto.

Penas que caem ao ritmo da chuva.
Lágrimas que se provam na cadência de um soluço.

06 dezembro 2006

05 dezembro 2006

Fantasia

Por trás de um beijo aparece uma máscara.

Ambições materializam-se.
Sonhos concretizam-se.

O desfecho de uma história sem narrador.

Tributo

"Eu sei que se o destino for gentil tenho o resto da minha mente."

B. Flowers

04 dezembro 2006

Cá dentro

Pára!

Perde a vontade.
Perde a irreverência.

Ganha reverência ao que te rodeia.

Sê o que te rodeia.
Existe por ti mesmo.

Obedece à tua vontade.

Desfruta de ti mesmo.

Ruma

Foge de um tempo que não é o teu.

Rompe com laços que secaram ao relento.

Leva contigo quem não te partilha.

29 novembro 2006

Troca

A pedra basilar de um muro.
A fronteira de um território por explorar.

Um convite.
Um passo.

A muralha erigida desmembra-se com um sopro.

28 novembro 2006

24 novembro 2006

Corolário

Ao entrar pela porta que se lhe aparentava fechada resumiu a sua vida em quatro passos.

Afecto.
Maresia.
Oferta.
Ruído.

23 novembro 2006

Aparências

De ouro se veste o frio.
De frio se enche a luz.
De luz se forra a mágoa.
De mágoa se molha o encanto.

Receber sem ofertar.
Tocar sem acariciar.

22 novembro 2006

Imaginário

Um pote de moedas de ouro.
Sete cores riscam a cinza.

Duplicam-se vontades.
Dobram-se virtudes.

Salta-se um degrau para subir a escada toda.

Imprevisibilidades

Nunca uma opção se perfilou como a certa.
Nunca um tiro foi disparado com direcção.

Cambiantes num percurso.

Ponteiros de um relógio que se encontram a meio da jornada.

Caminho

Abriu.
Subiu.

Inventou o seu verbo na ponta de uma seta.

As escolhas que tomou facultaram-lhe o ser.

20 novembro 2006

Reconstruir

O ocaso traz no bolso o estilhaçar de fragmentos que outrora foram a unidade.

O ligante demora a encontrar.

A unidade atingir-se-á.

14 novembro 2006

Posse

Eu vi.

Ninguém me disse.
Ninguém mais viu.
Ninguém quis.

Ninguém me quis.

Eu jurei que jamais a soltaria.

Porque um homem também jura.

13 novembro 2006

Gostar

Segurar um ramo de espinhos envergando uma coroa de pétalas.
Brincar com a água bebendo o fogo.

Entender o imperceptível no desfiar de um novelo de ternura.

09 novembro 2006

Afecto

Estirpes retrógradas evolvem dependentes de comoções corpóreas.

Porque o prazer se ajoelha perante magnânimos enleios.

07 novembro 2006

Delicadeza

A esquiva de um golpe certeiro.
A silhueta de uma carícia.
O poder da viração.


A sombra de um gesto.

À sombra de um gesto.

Reflexo

Em aventuras por terras de nenhures cedo se encontra quem menos se espera.

Uma Feira Popular.
Um lago.

A mácula de não voltar para trás.

02 novembro 2006

Brilho

Áureas molduras resplandecem em batidas confinadas.

Discurso directo

Aprecio o belo. A estética diz-me muito, porém não me considero fútil.
De todo.

Sinto-me capaz de apreciar o feio. Aprecio o belo no belo. Aprecio o belo no feio. Não o feio que depende dos gostos, das sensibilidades, de modas ou humores, mas o genuinamente feio. Aquele feio que o é na sua génese e que o será na sua eternidade. O feio consciente.

Mas não fui dotado de mecanismos que me permitam transpor os sentimentos que me assolam para palavras. Lamento. Apenas escrevo o que sinto. E apenas o consigo escrever de uma forma pouco inteligível. Até mesmo para mim.

Sou frequentemente assoberbado por enxurradas de emoção que provocam em mim a necessidade de partilha. E faço-o. Sem pudor, sem medo nem vergonha. Sou um mero veículo de emoções que fluem por entre os meus dedos, muitas vezes sem que eu sequer dê por elas.

Serei um esteta? Talvez.

Acima de tudo sou punk.

Sem crista nem blusão de cabedal.
Sem picos nem a cheirar mal.

Porque ninguém sentiu nunca mais do que os punks.
E eu sinto.
Para viver.

30 outubro 2006

Invasão

Hipnotizado pelo que lhe escondem, desce avenidas de palavras com um dicionário na mão.

Ambição

O cheiro de um abraço.
A vontade num presente.

O que sempre quis foi-lhe entregue sem aviso.

A eternidade num segundo.

27 outubro 2006

Descoberta

Estorvo que dinamiza.
Obscenidade que apazigua.

Repentes numa roda que se quer fazer espiral.

26 outubro 2006

Celebração

Envolto num manto de sobriedade passa entre espelhos que reflectem o que quer mostrar.

Emerge destilado.

24 outubro 2006

Despertar

Pele que dorme em lençóis de mel.

Como uma gargalhada desmesurada.
Como uma garganta que canta.

Aroma que propaga as cinco e meia da manhã.

23 outubro 2006

Tentação

Intrépido por onde navega, forma ondas de prazer com remadas de desejo.

Remendos

Alimentado por uma réstia de existência, invade o outro ser que nele habita.

Precipita-se num desfiladeiro sem guarda.
Desmorona muralhas de absorvência.

A busca do ligante terminará na unidade.

20 outubro 2006

Expor

Chovem fábulas em seus ombros.
Seus cabelos bailam ao Sol da música.

Marcados pelo decoro de um sinal, os seus lábios projectam-se na tela que resolveu chamar.

A atenção enviada ao receptor impede que qualquer meio deturpe a sua mensagem.

19 outubro 2006

Entronado

Do seu domínio se erguem palpitações.
Da sua posse se libertam estados de elevação.

Ondas formam-se.
Muros caem.

Bate no seu peito a prosperidade do ser.

Objectivos

A aurora inconsciente fecunda de sapiência a véspera que no ocaso se propaga.

Um estranho querer.
Uma bizarra ambição.

A vizinha volúpia que adormece incauta.

Dependência

À escuta.
À espera.

De um Borda d'Água temporal.
De entrar num prometido Éden.
De sair de um sentenciado Hades.

Façanhas que se prometem.
Promessas que se fazem.

Ao tempo que passa.
Ao tempo que fica.

18 outubro 2006

Experimentação

Escondido numa fortaleza de algodão, persegue o que não vê.

Cai se o alcançar.

Sensações

Lê o conforto de uma manta.
Ouve a frescura de um olhar.
Tacteia o encanto de uma alma.
Saboreia a leveza de uma carícia.

Num trovão.
Num raio de sol.
Numa varanda.
Numa brisa.

17 outubro 2006

Fruto proibido

A quietude percebida num tropel.
Uma mirada paralela ao infinito.

O alvoroço de um rubro latejar.

Descansar em lábios outrora intangíveis.

16 outubro 2006

Dormir

Fantasias de embalar desfeitas em mel.
Impressões no fundo de uma chávena.

Um encontro com Morfeu.

Um lençol de sete cores.

13 outubro 2006

Alegria

Esgares rasgados em harmonias de revolução.

Eternos sorrisos internos.

Superstição

Um lugar-comum exclusivo e singular.

Dois braços de ferro.
A tecla de ouro.

Aquele que dominar as trevas brilhará com o esplendor de uma Vitória.

Destino

Uma candeia que se acende na claridão de uma vontade.
Um pavio que se consome até à base de um pensamento.

A inevitabilidade da procura é apenas suplantada pelo desejo da conquista.

11 outubro 2006

Sentir

Dentro de uma moldura de pétalas bebe do aroma que se faz calor.

Desilusão

Há uma luz que brilha, ateada por um fogo.
Há duas lanternas que a espalham.

Ao esconder o que lhe é próprio, coloca o carvão na braseira.
As lanternas recolhem.

A braseira aquece.
O carvão acaba.

10 outubro 2006

Vibrar

Torna-se incompreensível apreciando a beleza sonegada pela agressividade.

Eternidade

Sempre deixar uma porta por fechar.
Sempre deixar um sulco por lavrar.

Sempre estar amarrado a um movimento.

Mentira

Convicções assentes em pensamentos arredios.
Testemunhas perpétuas de reflexos díspares.

Um ponto de fuga que existe por si.

Dobrar uma ilusão.

09 outubro 2006

Identidade

A entrega de um corpo dificilmente será colmatada por uma singela permuta.
A entrega de uma alma raramente envolverá dois corpos.

Dar e receber a justiça que se afastou do ser.

Será esse o preço a pagar pelo que se almeja?

Senda

Percorrido que foi o trilho inicial, deixa a desilusão invadir as palavras que ecoam no seu âmago.

Em trovas escutadas entende escalas sem métrica.
Em melodias lidas atinge letras sem alfabeto.

No verbo alheio jaz o presente que teima em chegar.

08 outubro 2006

Sofismas

Sendo quem é, passa incólume no meio de ventos de mudança.

Numa situação desfavorável agiganta-se.

Ri.
Fala.
Eleva-se.

Ilude.

03 outubro 2006

Paixão

Fascinado pela sua honestidade, aceita as regras do jogo.
Mano-a-mano.

Nunca perdem.

Eleva-se.
Resplandece.

A dimensão da sua beleza nunca se lhe tinha sido tão perceptível.

Empatia

Brilho num copo de vinho.
Confidências nas borras de um café.

Uma viagem de ida, rumo a um porto de abrigo.

Realização

Um sorriso eterniza a vontade de sentir.

Um espelho luzidio.
Uma esfera expansiva.

Plenitude.

02 outubro 2006

Maturação

Quantos ciclos terá completado no momento da partida?
Terão sido os suficientes para chegar ao início?

Voltas que se perpetuam num eixo assimptótico.

Prazer

Seduzido pelas ondas, movimenta-se através das sombras que lhe alumiam o caminho de volta.

Torna-se luz.

Crescer

São.
Existem.

Porque ao serem ostracizados imbuem-se da sua própria essência.

Querer

Trepar uma arriba de espinhos como cair sem amparo numa piscina de pétalas.

Comunicação

A exactidão que se empresta a um sopro.
A clivagem extraída de uma brisa.

Miragens de uma pauta que teima em descompassar.

29 setembro 2006

Devassa

As palavras gastam-se ao sabor de quem as deseja.
A erosão do verbo torna perene o saber.

União

Intenso como ele só, atreve-se a dispor de desejos expressos num candeeiro.

A luz permite-lhe abusos outrora intratáveis.

Certezas

Momentos de lucidez que se perpetuam por instantes ambíguos.
Analogias unívocas por entre fenómenos ambivalentes.

Segurança em ser incauto.

Intrepidez

Numa onda que se forma, esfuma-se o temor de enfrentar a queda abrupta na areia que, surpreendentemente, se torna pedra.

No cume de uma montanha.
No vértice de uma pirâmide.
No topo do mundo.

Ao fundo do mar.

Saturação

Busca o que desconhece porque o que sabe é demasiado.

27 setembro 2006

Intolerância

As atrocidades passam ritmadas pelo ribombar verborreico de espíritos que, despudoradamente, se mostram.

Por entre melodias rudes.
Por entre versos descompassados.
Por entre dúvidas primogénitas.

Porque sim.

Suavidade

Porque a manhã leva consigo doces prazeres, ternas carícias dissipam-se no éter...

26 setembro 2006

Matemática Aplicada

Tempos há em que uma divisão se multiplica.
Tempos há em que as vezes aumentam.
Tempos há em que um aumento faz a diferença.
Tempos há em que uma diferença divide.

A Cruzada

O Mascarilha fala e o povo escuta!
O Mascarilha ri e o povo pasma!
O Mascarilha grita e o povo treme!
O Mascarilha sonha e o povo vive...