28 abril 2007

Mártir

Colchão de um corpo que dilata com o calor que bebe.
Almofada de uma cabeça que encolhe com o gelo que suga.

Presa ao verde que a invade, sente-se impotente para lhe garantir estanqueidade.

Tributo IV

"A minha culpa é o meu único crime."

J. Warfield

Rumos

Uma barcaça à deriva num lago salgado.
Uma gaivota na terra do nunca.

Pisca o olho a direito.

O gatilho que desvenda a futilidade de uma alma.

10 abril 2007

Desespero

Desiste de quem é para ser quem idealiza.
Insiste em quem não se presta a demências.

Vê a sua sombra reflectida num espelho.

Um buraco sem fundo onde não há lugar para o amor-próprio.

05 abril 2007

Naturalmente

Uma raiz que se quer tronco.
Um tronco que se quer ramo.
Um ramo que se quer folha.
Uma folha que se quer ave.

Devaneios de um reflexo que teima em atrasar.

02 abril 2007

Tributo III

A mente é o seu próprio lugar, e os Lugares habitados pelos loucos e os excepcionalmente dotados são tão diferentes dos lugares onde as mulheres e os homens comuns vivem, que há pouco ou nenhum traço comum de memória para servir de base à compreensão ou sentimento mútuo.

A. Huxley

Cintilar

Foste quem trouxe a luz para uma sala já iluminada, por entre cestas de vime, verde para olhos nenhuns.
Foi a candeia que pendia do teu regaço que deu as cores ao delírio vermelho que se fez encarnado.

Fui a máscara que despiste.

Foste a máscara que vesti.

Loucura

Nada procura.

A espaços encontra-se.
A espaços se perde.

Na partilha de um momento reside o compilar de uma existência.
Mais que uma.
Mais que duas.

Porque três foi a conta que alguém fez.